quinta-feira, 17 de maio de 2012

Oliva Creative Factory – Fine Arts em São João da Madeira




Desde segunda-feira, dia 7, que Paulo Almeida, Victor Costa e Robert Clark criam arte a partir da Oliva. Os três artistas plásticos estão a participar numa residência de desenho no âmbito do projeto Oliva Creative Factory – Fine Arts, comissariado por Victor Costa, e apresentam os resultados dessa experiência numa brevíssima exposição que inaugura às 16h00 do próximo sábado, precisamente nas instalações da Oliva, e é desmontada logo depois. É a primeira incursão criativa oficial na velha fábrica antes do lançamento do seu novo destino, no dia 30.

Trabalhando entre os Paços da Cultura e as enormes instalações da Oliva (no interior das quais já decorrem há meses as obras da Oliva Creative Factory), os três artistas estão a produzir peças próprias e a orientar workshops gratuitos e dirigidos sobretudo a público com historial na área artística. Os temas da residência serão a própria Oliva e o seu património industrial e urbanístico, o cruzamento entre o desenho e a performance e, de um modo mais geral, as capacidades criativas e o seu papel no empreendedorismo.
Docente na Faculdade de Belas Artes do Porto, Paulo Almeida tem-se dedicado à exploração da dimensão performativa do desenho. Nesta residência, propõe um conjunto de três ações que dialogam com o arquivo fotográfico da fábrica e com a própria rua onde está situada. Haverá, por exemplo, fotografias de um homem a correr pela zona industrial com um paraquedas colorido, que contrasta com o cinzento do espaço mas, ao mesmo tempo, cria uma correspondência com a geometria do edifício. “Quis criar uma espécie de disrupção naquela rua”, explica ao labor.

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Em “Matching Pattern”, Paulo Almeida recorreu a uma das célebres fotografias publicitárias da máquina de costura Oliva e filmou desenhos de figuras humanas a tentar costurar um padrão na camisa que vestem, naturalmente às riscas vermelhas, porque vermelho era a imagem de marca da fábrica. A banheira está no centro da terceira ação. O artista plástico explorou a forma de produção do objeto por considerá-lo semelhante à forma como se toca o corpo. Aqui também se recorre ao vídeo, conjugando-o com o desenho.

“No meu trabalho, tenho lidado com as relações entre o desenho, as práticas pictóricas e as práticas performativas”, explica Paulo Almeida. “O meu trabalho nesta residência vai incidir numa espécie de deslocamento de gestos que estariam associados à própria fábrica mas retirando-os desse contexto funcional”, afirma. Assim, o desenho acaba por assumir mais uma função “proto-performativa”, na medida em que “permite controlar e ativar toda a performance”.

Uma espécie de rumor

Paulo Almeida conduziu o primeiro workshop na Oliva, na passada terça-feira. A zona 2 da fábrica e a Rua da Fundição encheram-se de jovens estudantes - locais de nível secundário e outros a frequentar a Faculdade de Belas Artes do Porto - que desenhavam nas paredes e no chão. “O que proponho é uma espécie de experiência performativa do lugar, onde o desenho a giz é o veículo dessa ação”, explica o professor. “A ideia é criar um desenho com o qual eles possam interagir, criando uma espécie de micro-narrativa daquele lugar”. Duas horas depois, foi tudo limpo mas Paulo Almeida está convencido de que a ocorrência criou “uma espécie de rumor: alguma coisa aconteceu que não era suposto ter acontecido naquela fábrica”.

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O inglês Robert Clark visitou, pela primeira vez, a Oliva num dia de setembro. Lembrou-se imediatamente da fotografia que Man Ray tirou a um vidro no ateliê de Marcel Duchamp em 1920 e que ficou conhecida como “Elevage de Poussiàre” ou a criação do pó. “Quando vim ver a Oliva, havia muito pó e muitos vestígios da história da fábrica e das pessoas que lá trabalharam. Lembrei-me imediatamente dessa fotografia”, explica.

O trabalho que Robert Clark tem vindo a desenvolver desde então é muito a memória desse dia na perspetiva de um forasteiro. Na primeira exposição que fez em Portugal descobriu elementos coincidentes entre o seu trabalho e a cultura portuguesa. Desde logo, a criação de heterónimos, na boa tradição de Fernando Pessoa. A descoberta levou-o a interessar-se mais pelo poeta português e por outros conceitos bem nacionais como a saudade e o fado. Foi com essa abordagem de nostalgia e tristeza pela fábrica que fechou que o artista plástico deitou mãos à obra e fez uma espécie de “interpretação livre das tradições portuguesas”, recorrendo ao desenho, mas também à fotografia, à pintura e à palavra. São precisamente os processos de colagem e assemblagem, a inter-relação entre diferentes linguagens e a construção de múltiplas personalidades que vão estar em destaque nos workshops que o inglês dinamiza hoje e amanhã.

Orgulho

Victor Costa é o mentor do Oliva Creative Factory - Fine Arts. Perante a diversidade de linguagens artísticas usadas em torno da Oliva, o diretor do Centro de Arte de S. João da Madeira e professor de Desenho afirma-se orgulhoso e garante que a câmara fez uma boa aposta. “São experiências muito diferentes que era o que eu queria aqui. O Paulo aborda o lado performativo, eu abordo a apropriação do objeto através de uma linguagem contemporânea e o Robert apropria uma série de realidades mas introduz umas novas. É algo de que me vou orgulhar no futuro”, afirma. O projeto Fine Arts não fica pelo desenho. Sábado são também expostas as fotografias que resultam de um workshop dinamizado por Aníbal Lemos e, no fim de semana seguinte, os trabalhos que os fotógrafos José Vaz e Silva, Luís Veloso e Rui Apolinário exibiram na exposição de 2003 “Arquitetura Industrial” (“Diálogo com o passado, em imagens e sons”, página 2/3). A incursão artística integra também o filme, através do documentário e vídeo-arte. (fonte: http://www.labor.pt)

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