quarta-feira, 18 de abril de 2012

Queimar Arte em protesto!!

Queimar Arte em protesto contra a crise

Um museu italiano começou a queimar as suas obras, em protesto contra os cortes nos subsídios culturais. Antonio Manfredi, fundador e diretor do CAM, Museu de Arte Contemporânea de Casoria, Nápoles, afirma que, de qualquer forma, as obras estão perdidas, por não haver dinheiro para manter o museu aberto.

A primeira tela desfez-se em fumo às seis da tarde de dia 17, incendiada pelo próprio Manfredi. A autora da tela, a francesa Séverine Bourguignon, não só apoiou o protesto como assistiu em direto, online, à “morte” da obra. Bourguignon considerou o ato "político", necessário e convincente face a estas circunstâncias adversas.

Hoje, igualmente às seis da tarde, será a vez da artista napolitana Rosaria Matarese incendiar uma das suas obras.

Antonio Manfredi ameaça queimar todo o acervo do museu, obras de artistas contemporâneos do mundo inteiro, entre elas pinturas, esculturas, instalações e vídeos. “De qualquer modo, as nossas mil obras estão a caminho da destruição devido à indiferença do governo” explicou Manfredi.

Deverão ser destruídas três obras por semana enquanto durar o protesto, intitulado “Art War” (Guerra da Arte). O diretor do CAM de Casoria, ele próprio um escultor, considera que só com medidas extremas será possível chamar a atenção do ministro italiano da cultura, Lorenzo Ornaghi.
Asilo na Alemanha
Já em fevereiro do ano passado, Manfredi foi notícia por ter escrito uma carta à chanceler alemã, Angela Merkel, propondo-lhe transferir o museu para a Alemanha. Para assinalar a missiva, Manfredo hasteou mesmo a bandeira alemã à porta do CAM de Casoria.

“Estou a falar a sério. Não é nenhuma espécie de evento artístico. Se ela me der asilo, vou fazer as malas e mudar-me para a Alemanha com a minha equipa e toda a coleção de mil obras do museu,” afirmou Manfredi no dia 5 de fevereiro de 2011.

Apenas obteve resposta da galeria de arte marginal Tacheles, emblemática de Berlim, que em maio de 2011 se dispôs receber a exposição sobre a máfia e sua infiltração na sociedade. António Manfredi decidiu agora outra forma de protesto.

A destruição das obras de arte recebeu o apoio de vários artistas europeus que já colaboraram com o CAM de Casoria, entre eles o escultor galês John Brown, que segunda-feira incendiou um dos seus próprios trabalhos, Manifesto.

“O processo de fazer a obra de arte e a interação com o público é mais importante do que mantê-la como objeto precioso,” afirmou Brown à BBC, acrescentado que este é também um protesto simbólico contras as soluções para a crise económica que têm vindo a ser adotadas.

Mas há também quem critique Manfredi, considerando estes protestos apenas uma forma de publicitar a existência do museu através de notícias.
Ameaçado pela Camorra
O
CAM de Casoria inclui obras de artistas de todo o mundo, incluindo Portugal, representado por Frederica Bastide Duarte, Alexandra Cabral, Sofia V. Bustorff, Rita Da Costa ou Beatriz Albuquerque.

Instituído em 2005, o museu tem sido palco de diversas exposições e colaborações marcantes, nomeadamente com a Bienal de Veneza. Mas, além de algum dinheiro inicial para a fundação do museu, o estado italiano não tem dado apoios. O museu sobrevive sobretudo à custa de exposições e de mecenas.

O Cam napolitano tem tido igualmente dificuldades com o crime organizado italiano, desde que ousou fazer uma exposição sobre a Camorra, a máfia italiana e os problemas dos imigrantes ilegais. Manfredi afirma ter recebido ameaças de morte e o museu foi vandalizado.

“Há forças negras a agir aqui que querem que as coisas se mantenham estáticas. Não é necessariamente um homem da máfia a aparecer se arma em punho, é mais subtil do que isso mas, se se é daqui, percebe-se muito bem a mensagem,” afirma o fundador do CAM.

Nápoles é uma das regiões mais pobres de Itália e a criação do CAM procurou agitar as águas e criar alternativas culturais. Entre as diversas atividades o museu colabora com diversas instituições locais de ensino.

Mas Manfredi tem poucas esperanças que algo fique resolvido com os seus protestos. Os cortes orçamentais estão a afetar até mesmo um dos principais polos turísticos de Itália, a cidade romana de Pompeia, soterrada nas cinzas de uma erupção do Vesúvio em 79 DC e que tem vindo a ser redescoberta desde o SÉC.XVI. (fonte: http://www.rtp.pt)

Sem comentários:

Enviar um comentário