quinta-feira, 5 de abril de 2012

As cartas de amor trocadas entre Vieira da Silva e Árpád Szenes

Uma selecção de cartas de amor inéditas, trocadas entre Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes, vai ser publicada em Julho deste ano pela Fundação que acolhe o espólio do casal de artistas, segundo a directora da instituição.

Em declarações à agência Lusa, a directora do museu em Lisboa da Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva (FASVS), Marina Bairrão Ruivo, indicou que o projecto começou há um ano, com a tradução e transcrição de uma selecção de missivas escritas entre ambos, nos anos de 1930 e 1950.

«Durante os 55 anos de uma relação intensa, foram poucas as ausências para trocar cartas, mas aconteceu, por vezes, e esses documentos revelam não só os afectos, mas outras informações interessantes sobre pintura, contactos com amigos e família, ou exposições que visitavam», indicou.

Marina Bairrão Ruivo sublinha que, naquelas cinquenta cartas seleccionadas para o livro, trocadas entre o casal, sobressai «a beleza da forma como partilharam esse amor».
Nas cartas surgem também alguns desenhos, como corações, e palavras carinhosas que trocavam: Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) chamava "bichinho" a Árpád Szenès (1897-1985).

Além das manifestações de afecto, aparecem outras questões nas missivas, como os problemas de saúde de Vieira da Silva e também as inquietações existenciais da artista, que preocupavam muito Árpád Szenes.

A directora da Fundação relatou que este trabalho - sobre um «espólio riquíssimo» existente na instituição - só foi possível graças à colaboração de uma voluntária, Graça Simão, economista de formação, mas com profundos conhecimentos do francês, «que se apaixonou pelo projecto».

Neste período foi feita a tradução e transcrição das cartas, bem como uma selecção, «mas ainda há muito a fazer quanto à introdução de notas explicativas e uma análise para contextualizar» os documentos, enviados de Paris, Lisboa ou Rio de Janeiro, cidades onde os artistas viveram.

Vieira da Silva e Árpád estiveram exilados no Brasil (1940-1947), quando dominava em Portugal a ditadura do Estado Novo, e permaneceram apátridas até 1956, ano em que lhes foi concedida a nacionalidade francesa - Oliveira Salazar retirara a nacionalidade portuguesa à pintora e Szenes, cidadão húngaro de ascendência judia, vira o seu país de origem e a França de adopção, ocupados pela Alemanha nazi.

Além de Graça Simão, participam no projecto a própria directora e a documentalista da Fundação, Sandra Santos.

O casal trocou correspondência com inúmeros amigos, artistas, escritores e políticos, e alguma dela já foi publicada, como foi o caso das cartas trocadas com o artista plástico e poeta Mário Cesariny e com o poeta Alberto de Lacerda.

O novo livro com a recolha de cartas de amor irá incluir muitas notas, fotografias da época e imagens, algumas originais, sobretudo aquelas que contêm desenhos. (fonte: http://diariodigital.sapo.pt)

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