quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mulher Migrante homenageou Maria Archer, uma mulher "intemporal"

A autora de livros como “Há-de Haver uma Lei...”, “Casa sem Pão” ou “Terra onde se fala Português”, nascida em 1899, foi jornalista e opositora ao regime do Estado Novo, tendo vivido muitos anos no exílio no Brasil. Nos 30 anos da sua morte, foi homenageada pela Associação Mulher Migrante.

Maria Emília Archer Eyroles Baltazar Moreira nasceu a 4 de Janeiro de 1899. Viveu a infância e a adolescência entre Portugal, a Ilha de Moçambique, a Guiné, Baloma e Bissau. Foi casada e divorciou-se. Viveu em Angola, escreveu mais de três dezenas de livros, frequentemente sobre temas sociais e as questões da condição feminina. Credenciada como jornalista durante o julgamento de Henrique Galvão, em 1952, viu os seus apontamentos serem-lhe confiscados. Três anos depois seria mesmo o seu trabalho como repórter que a obrigaria ao exílio no Brasil. A portuguesa que pretendia, nas suas palavras, “rebater o conceito arcaico da inferioridade mental da mulher” regressou ao seu país em 1979, já doente, e faleceu em 1982.


Trinta anos depois, a homenagem partiu da Associação Mulher Migrante, em parceria com o INATEL, a autarquia de Espinho e a Fundação Professor Fernando de Pádua (sobrinho de Maria Archer). O evento decorreu no Teatro da Trindade, em Lisboa, a 29 de março, e juntou familiares e amigos, mas também admiradores da escritora e da mulher. A iniciativa pretendia fazer o reconhecimento da importância de Maria Archer no século XX português e perspetivar a sua figura no mundo contemporâneo. Simultaneamente, foi também inaugurada a exposição “Rostos Femininos da República”, da responsabilidade do Museu Municipal de Espinho.

Uma “figura intemporal”

Olga Moreira, sobrinha-neta de Maria Archer, revelou-a aos presentes como “uma mulher livre, escritora de garra, senhora de si, impondo-se pelo talento”, alguém que “escreveu aquele que é hoje um dos maiores retratos da situação das mulheres portuguesas na primeira metade do século XX”.

Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e atual presidente da Assembleia Geral da Associação Mulher Migrante, uma das responsáveis por esta homenagem, disse aos presentes que Maria Archer é uma “figura intemporal”, que “permanece uma fonte de inspiração e de ensinamentos” para todos nós, por ter sido uma “cidadã inconformada, consciente das injustiças, das desigualdades e das discriminações”.
Tendo vivido numa época em que “era suposto uma mulher ser boa filha, boa esposa e boa mãe”, como lembrou a professora Dina Botelho (autora de estudos sobre a obra da escritora), Maria Archer “foi das poucas mulheres do seu tempo a ter como profissão o jornalismo e a escrita, o que não era fácil na época”. “Muitas mulheres esconderam-se atrás de pseudónimos para poderem escrever à vontade; Maria Archer nunca se escondeu”, acrescentou Dina Botelho, e “ousou ser Maria Archer, sem pseudónimos”, sublinhou Manuela Aguiar.

Vítima de perseguições políticas, com obras suas apreendidas pela PIDE, Maria Archer nunca baixou os braços, e “as suas convicções nunca soçobraram ao machismo vigente”, como notou Leonor Fonseca, vereadora da cultura da autarquia de Espinho. Desse modo, manteve um combate “contra o obscurantismo que condenava a metade feminina de Portugal à dependência, à incultura, ao enclausuramento doméstico, pela libertação da mulher sem a qual não há libertação da sociedade como um todo”, disse Manuela Aguiar.
A escrita era a sua “arma”, era “fugir ao mundo de silêncio a que a mulher estava votada”, lembrou Dina Botelho. Mas “o regime não gostou do retrato, nem gostava de Maria Archer”, e a pressão política e as ameaças à sua liberdade levaram-na ao exílio.

Maria Archer foi uma mulher que, segundo aqueles que a conheceram, “abdicou do conforto e da riqueza para ser livre”. Fernando Pádua, sobrinho da escritora, resume o pensamento da tia numa frase que lhe recorda: “eu sou uma mulher igual a eles”.
O ex-Presidente da Repú-blica Mário Soares e a presidente da Fundação Pro Dignitate, Maria Barroso, lembraram a homenageada como alguém que “batalhou extraordinariamente pelos direitos das mulheres e chegou a sofrer politicamente por causa disso”. E deixaram um elogio à Associação Mulher Migrante, por “iluminar as figuras das mulheres, que são normalmente esquecidas”.

(fonte: http://www.mundoportugues.org)

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