segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Literatura - "Paredes Vermelhas"


As "Paredes Vermelhas" da vida de João Albuquerque
Sorriso semi-cerrado nos lábios, postura acolhedora e retraída, tom de voz calmo de palavras sinceras.
São estes os traços que caracterizam João Albuquerque, um homem que poderia ser um vulgar médico não fosse a dramática história contida no seu passado.

Como forma de dar a conhecer ao mundo todo o seu sofrimento, João apresentou na Fnac Colombo o seu livro “Paredes Vermelhas”, relato das suas traumatizantes vivências dentro dos muros da Academia Militar.

Uma realidade interna que para o autor é pautada por valores diferentes dos que ainda naquele dia, 12 de Janeiro, haviam sido apregoados pela instituição por ocasião do seu 175º aniversário.

É com o olhar carregado de tristeza que João Albuquerque aceita confidenciar ao Hardmusica o seu percurso a partir dos 18 anos. Acabado o 12º ano, estávamos em 1998 quando o jovem João decide entrar para a Academia Militar com o intuito de se tornar médico.
Mas as suas expectativas foram desde logo defraudadas perante os constantes episódios de humilhação e violência física vividos por si dentro destas “paredes vermelhas”.

Admitindo que estes “abusos de poder começaram logo desde o primeiro ano”, é com dificuldade que o autor fala do dia que mais o marcou. “Era de noite, fomos mandados para o pátio com a farda nº3 vestida sem nada por baixo. Lá, perante centenas de pessoas, mandaram-nos despir e apontaram-nos as lanternas para as caras e para as zonas genitais. Depois ainda tivemos que andar a rastejar meio despidos. Demasiado humilhante para ser descrito”, acrescentou emocionado.
“Pensei muitas vezes em sair, mas as ameaças, a chantagem e a possibilidade de ter que pagar uma elevada indemnização foram-me fazendo ficar”.
Foi desta forma que o agora médico deixou prolongar o seu sofrimento até ao ano de 2005, altura em que acabou mesmo por sair em litigio da Academia Militar por não o quererem deixar escolher a especialidade de medicina por si desejada.

Desde a sua saída e com vários processos a decorrer na justiça nos entretantos, João começou a escrever o livro página a página ao longo de um processo “custoso e demorado”. “Tive que interromper a escrita por várias ocasiões porque estava a ficar deprimido, reviver todos aqueles momentos deixava-me cada vez mais triste”, afirmou.
Mas o trabalho acabou por ser concluído com sucesso. Perante a impossibilidade aparente de as pessoas que lhe causaram todo o mal serem condenados pela justiça, “Paredes Vermelhas” tem acima de tudo o objectivo de alterar uma realidade que o autor defende estar presente em várias instituições. “Se conseguir com o livro alterar alguns comportamentos e evitar que situações destas se repitam para mim já é uma grande vitória”, confessa com convicção.
Tal como está referido na contracapa, este é “um livro por um mundo melhor”, no sentido de denunciar injustiças mas também com a intenção de encorajar todas as vitimas deste tipo de abusos a falarem. “Libertem-se, falem e evoluam, deitem cá para fora tudo o que vos marcou”, é o conselho de João Albuquerque.

Ele, já o fez. “Paredes Vermelhas” é uma história verídica de sofrimento e coragem de alguém que continua ainda a superar as marcas do passado. (fonte:
http://www.hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=11535)

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