segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Arquitectura contemporânea - Prémio Méret Oppenheim com traço português

Nuno André Bateira

Não foge ao “tradicional cliché do emigrante português”, mas o arquitecto Nuno André Bateira está bem onde está — em Basileia, no gabinete Silvia Gmür, recentemente distinguido com o Prémio Méret Oppenheim 2011.

Aos 72 anos, Silvia Gmür é uma das grandes referencias da arquitectura contemporânea. A suíça trabalhou com o finlandês Alvar Aalto e com o gabinete Mitchell/Giurgola, tendo evoluído ao lado de Livio Vacchini até à sua morte em 2007. No ano passado, o seu atelier recebeu o Prémio Méret Oppenheim — distinção atribuída anualmente na Suíça pelo Office Fédéral de la Culture, sob recomendação da Comission Fédérale d'Art, a serviços prestados à sociedade —, uma espécie de prémio carreira para o qual contribuíram alguns portugueses.

“É tradição do gabinete suíço contratar portugueses e alunos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP)”, disse ao P3 Nuno André Bateira, que, a título de exemplo, recorda João Machado (agora com o gabinete Lupini Machado, em Milão) e Nuno Rodrigues (na lisboeta Promontório). “A elasticidade, a ginástica e a flexibilidade são qualidades apreciadas lá fora”, sublinha o arquitecto. “A FAUP conta com uma formação abrangente, ao contrário de uma série de grandes escolas mais inconsequentes. No Porto, um projecto conta uma história desde a concepção à execução”.

Depois do Erasmus em Valência (o seu orientador da tese de licenciatura foi Pedro Gadanho), Bateira trabalhou quatro anos na Gaiurb, onde percebeu não ter “aptidão para o serviço público”. Em 2007, uma vaga e uma entrevista por telefone mudaram o rumo da sua carreira.

“A minha vontade de ir para fora é muito anterior à crise”, confessou ao P3 durante a última visita a Portugal, onde vivem a mulher e a filha. “Pensei em estar fora três, quatro, cinco anos no máximo, mas não me vejo capaz de voltar nos próximos anos. A crise sente-se muito ao de leve na Suíça, onde as pessoas não são nem alarmistas nem sensacionalistas”.

"Em Portugal o cenário está minado"
Nuno André Bateira, 36 anos, vive e trabalha em Basileia, cidade de arquitectura, de Herzog & de Meuron, de Diener & Diener, Christ & Gantenbein, Harry Gugger, Miller & Maranta... “Tudo passa por lá”. Porto e Basileia estão separados por 1500 quilómetros, mas a balança, refere, está demasiado desequilibrada.

“Em Portugal não existe um nível cultural que permita respeitar a obra. A instrução na área da arquitectura é diminuta. Existe muito pouco respeito pelo nosso trabalho e pelo esforço intelectual. Nota-se que há muito poucas oportunidades para jovens arquitectos e que há uma pequena burguesia que alimenta pouquíssimos arquitectos. É tudo sempre para os mesmos. E nas câmaras municipais o cenário está minado, há muitas pessoas sem escrúpulos”.

Nos últimos dois anos e meio, Bateira concentrou-se no Hospital Zollikerberg, em Zurique, mais do que um hotel cinco estrelas e mais um exemplo de um edifício técnico com uma vertente artística, especialidade do gabinete Silvia Gmür.

A disciplina da luz, o ritmo e a dualidade, bem como a utilização do betão aparente — e a capacidade para potenciar a plasticidade do material — são imagens de marca e continuam a convencer clientes milionários. O gabinete onde trabalha aguarda os resultados do concurso para a construção de um projecto orçado em cerca de 280 milhões de francos (230 milhões euros). (fonte: p3)

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