terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cultura Notícias - Identidade cultural













Rejuvenescimento e a identidade cultural de Lisboa em debate no São Luiz

Esta Segunda-feira, 30 de Janeiro, o Jardim de Inverno do Teatro São Luiz foi palco para uma discussão sobre “O Rejuvenescimento e a Identidade Cultural de Lisboa, promovida pela Assembleia Municipal.

Diversas figuras ligadas ao panorama cultural da cidade nas suas mais variadas vertentes juntaram-se para levantarem questões importantes numa altura em que este sector tanto precisa que lhe dêem valor.


Simonetta Luz Afonso, Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, António Costa, Presidente da Câmara Municipal, e Luisa Vicente Mendes, Presidente da Comissão de Cultura, Educação, Juventude e Desporto da Assembleia, deram início a este colóquio logo pelas 10:00.

Gabriela Canavilhas, actual deputada da Assembleia da República e antiga ministra da Cultura (precisamente no último Governo em que existiu este ministério) começou por realçar o aumento da oferta cultura na capital portuguesa e a multiculturalidade que nela se interliga.

Sobre o tema “Rejuvenescimento da Cidade” falou também José Quaresma, centrando a sua comunicação no contributo dos estudantes da FBAUL – onde é professor auxiliar na área da pintura – para o “novo espaço público” que tem vindo a nascer no Chiado. Defendeu que a participação sistemática destes estudantes em projectos de Arte Pública têm sido importantes para a revitalização da identidade cultural de Lisboa, por dinamizar diversos espaços urbanos da cidade.

O geólogo e deputado do PCP Miguel Rosado incidiu a sua intervenção no papel da população mais jovem, designadamente, na política da cidade e dos bairros que a compõem.
O mesmo mencionou ainda a função das autarquias na resistência à erosão dos direitos sociais.


António Pedro Dores encerrou o primeiro painel realçando a importância dos valores e do respeito activo pelos Direitos Humanos, principalmente em tempos de crise civilizacional. O professor de sociologia do ISCTE deixou ainda duas propostas práticas: “a facilitação da apropriação de espaços urbanos pelos jovens” e “o combate e extinção da caça ao homem em Lisboa”.

Da parte da tarde teve lugar um segundo painel intitulado “Identidade Cultural de Lisboa”, debatido por um novo leque de oradores.

A escritora Inês Pedrosa começou por fazer uma breve reflexão sobre os pólos em que assenta a identidade não só de Lisboa, mas também de Portugal, realçando a falta de políticas continuadas nesta área. “Apesar do aumento exponencial da oferta cultural, é necessário um trabalho mais continuado e persistente”, defendeu, acrescentado que “há uma dificuldade em unir esforços para se afirmar a identidade lisboeta.” A directora da Casa Fernando Pessoa mencionou que a candidatura (bem sucedida) do Fado a Património da Humanidade “revelou temporariamente a excelência dessa união” e que gostaria que essa postura fosse agora alargada para outras áreas culturais, como a literatura, o cinema ou a gastronomia.

José Manuel Amaral Lopes baseou-se na sua experiência na Comissão Europeia – Direcção-Geral para a Sociedade de Informação para enfatizar o peso que a dimensão cultural tem vindo a ganhar na Europa, tanto a nível social como até económico. “Um estudo de 2005, realizado pelas mais prestigiadas universidades de economia a nível mundial, revelou que o sector da cultura é não só consumidor de recursos, mas também gerador desses mesmos”, partilhou o orador, que acrescentou ainda que, “na última década, este sector representou 2,6% do PIB da União Europeia, tendo sido o maior de todos os sectores a contribuir para o Produto Interno Bruto.” Conclusões como estas revelam, segundo o próprio, que “a cultura é um sector dinâmico e estimulante que promove a competitividade pela criatividade e inovação”, demonstrado que “é cada vez mais a saída para a crise”, disse.

O escritor e professor universitário Manuel Gusmão propôs o envolvimento de todos os agentes culturais (artistas e não só) na política cultural e a extensão da democratização da arte ao acesso da própria produção artística. Afirmou que “a cultura é atravessada e mediada pela economia”, mas “a arte é um valor sem preço.”

Margarida Bentes Penedo teceu fortes críticas ao Estado pela má condução da política de arrendamento e da reabilitação de imóveis. Enquanto arquitecta afirmou que “as cidades são uma das primeiras fontes de identidade cultural dos países” e realçou que “os centros históricos das cidades portuguesas têm vindo a morrer.” “As cidades mais interessantes evoluíram sempre de forma orgânica, mais apoiadas na manutenção do que na construção”, concluiu.

O desenvolvimento da Arte Urbana na cidade lisboeta foi a questão abordada por Pedro Soares Neves. “Lisboa tem vindo a abraçar um conjunto de artes urbanas, à semelhança do que já acontece há algum tempo em outras cidades europeias”, afirmou. Segundo o mesmo, no nosso país este fenómeno sub-cultural já passou a ser uma indústria de massas que move variados recursos. O arquitecto chamou ainda a atenção para o facto de a Câmara Municipal necessitar de “gerir as intenções inerentes a esta arte, que vão desde o vandalismo à contribuição para a renovação de locais deprimidos.”

A última intervenção neste colóquio coube a Catarina Vaz Pinto. Para a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, “a identidade de uma cidade constrói-se a partir da cultura.”

Catarina Pinto aproveitou para referir importantes passos para o meio cultural da cidade ao longo de 2012: a reabertura da Casa dos Bicos, a reabilitação e abertura de museus no eixo do Castelo de São Jorge até à Praça do Comércio e a reestruturação de bibliotecas municipais são apenas alguns dos que a CML tem previstos.
Do seu discurso fez também parte a questão económica: “os recursos para a cultura são cada vez mais escassos (…), e temos assistido a uma sobrevalorização do factor económico quando devemos pensar primeiros nos aspectos culturais em si.”


A encerrar esta iniciativa houve um momento musical com a actuação dos fadistas Gonçalo da Câmara Pereira e Teresa Machado, acompanhados por Manuel Gomes (na guitarra) e Fernando Gomes (na viola). (fonte: http://hardmusica.pt)

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