sexta-feira, 1 de junho de 2012

“Pátio Velho” leva arte a aldeia despovoada de Vale de Ferro


A renascer das cinzas, Vale de Ferro acaba também de abrir portas ao mundo da arte. A localidade que é habitada por apenas...

 

... dois casais estrangeiros, dispõe desde sexta feira de uma moderna galeria de arte.
Não fossem os deficientes acessos e o estado de abandono a que Vale do Ferro, na freguesia de Ervedal da Beira, tem estado votado e não haveria qualquer hesitação em situar a galeria de arte “Pátio Velho”, inaugurada sexta-feira, no grupo dos mais modernos espaços artísticos do país.
Uma realidade que, pela elegância, pouco se adequa a um mundo exterior marcado pela dureza do passar dos anos, mas que pela simplicidade encaixa que nem uma luva num cenário onde a mão da natureza substitui o negro das cinzas pelo verde natural de uma qualquer paisagem de vale.
É isto mesmo que acontece em Vale de Ferro, mais propriamente na galeria “Pátio Velho” criada por Herman e Magda Mertens, um casal belga que se radicou em Vale de Ferro alguns anos antes do fogo devastador de 2005 e desde então tem ajudado a desabitada povoação a renascer das cinzas, devolvendo-lhe condições de habitabilidade.
Perfeitamente integrados no local onde chegaram a conhecer as duas últimas moradoras, uma das quais cuidaram como se de uma mãe se tratasse, Herman e Magda encontraram em Vale de Ferro uma fonte de inspiração para uma arte que há longos anos se encontrava arrumada por força de uma vida de trabalho na Bélgica, na área da decoração de interiores.
E foi precisamente o cenário negro que resultou do incêndio de 2005 que levou Mertens a regressar às objetivas e flashes, chegando até a fazer uma exposição de fotografias no interior de uma casa, sua propriedade, que não resistiu às chamas. “As pessoas que viram a exposição ficaram emocionadas e decidi continuar”, recordou o mentor deste projeto de arte que agora dá por nome de “Pátio Velho”.
O artista que desde cedo sentiu curiosidade em conhecer Portugal dado que era o seu gosto pelos fados de Amália Rodrigues, chegou a terras lusas no final da década de 80 e hoje faz de Vale de Ferro residência fixa.
“Decidimos ficar devido à beleza desta zona”, contou o homem que aos 62 anos, se confessa agradado pela mudança que operou na própria vida, ao ponto de terem que ser os “dois filhos e três netos” a visitar o casal belga em Vale de Ferro. É que a abertura da galeria de arte “Pátio Velho” é apenas uma das concretizações de Magda e Herman que, ansiosos pelo arranjo dos acessos à localidade, esperam fazer da galeria um espaço cultural, estando prevista a realização várias exposições coletivas e individuais e até projeções de filmes do Cine'Eco.
Para um futuro próximo está também a abertura de Vale de Ferro a europeus portadores de deficiência que, durante alguns dias, ali poderão permanecer e participar em atividades ligadas às artes. Para o efeito, o casal tem em curso a requalificação de outras habitações que já teve oportunidade de adqurir com o objetivo de revitalizar aquele espaço.”Queremos deixar aqui a nossa marca”, contou.
Mertens e Magda partilham Vale de Ferro com outro casal inglês. Uma exígua comunidade estrangeira que está perfeitamente integrada na freguesia e no concelho, onde também proliferam muitos outros estrangeiros que, na sexta feira, disseram presente na hora de abertura da galeria “Pátio Velho”.
Entre um grupo que se destacava pelos olhares próprios dos que escolheram trocar o país de origem por Portugal e em particular por Oliveira do Hospital, marcaram também presença artistas concelhios e da região, bem como os responsáveis locais que muito apreciaram o espaço que naquela ocasião dava vida nova a Vale de Ferro.
“Estão de parabéns pela coragem, determinação e porque há muita arte naquilo que vocês fazem”, referiu na altura o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, lamentando porém os deficientes acessos que servem a localidade e o facto de a autarquia não estar em condições de os melhorar fruto dos cortes a que têm estado sujeitos todos os municípios do país. José Carlos Alexandrino assegurou porém que o executivo está determinado em apoiar este tipo de iniciativas que potenciam a criação de “uma dinâmica própria” a “todo este Vale do Mondego que tem sido um pouco esquecido”. O autarca falou ainda da intenção do município em reunir com toda a comunidade estrangeira radicada no concelho e assim potenciar “sinergias” e “discutir formas de integração”.
“A arte está aqui bem patente pela forma simples desta galeria”, referiu a vereadora da Cultura, Graça Silva, dando conta da total abertura do município para com a comunidade estrangeira, dando o exemplo da Biblioteca Municipal que beneficiou da oferta de livros por parte de uma estrangeira que, todas as quintas feiras, ajuda outros estrangeiros a aprender a língua portuguesa. “É assim que sabemos viver em comunidade e aprender mais”, sublinhou Graça Silva.
O presidente da Junta de Freguesia de Ervedal da Beira louvou a coragem do casal em “cair aqui em Vale de Ferro”. “Não vieram apenas residir, vieram fazer isto que hoje estamos a assistir que é fruto do vosso trabalho, imaginação e vosso gosto”, sublinhou Carlos Maia que apesar de insatisfeito com o estado dos acessos, se revelou confiante na boa resolução do problema. “Pode ser que um dia se faça luz e apareça financiamento para melhorar os acessos”, frisou.

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