Morto no dia 18 de junho de 2010 em Lanzarote, nas ilhas Canárias, aos 87 anos, "Saramago era fascinado por essa casa", diz sua viúva, a jornalista espanhola Pilar del Rio. O autor de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" imaginava instalar sua escrivaninha atrás de uma grande janela que oferece uma vista espetacular do rio Tejo.
"Daqui eu poderia ver os barcos passarem", dizia Saramago. Ele não teve o tempo de realizar esse sonho, mas suas cinzas descansam sob a janela, aos pés de uma oliveira centenária. "Um banco foi instalado bem na frente. As pessoas sentam ali, com um livro nas mãos, e ficam olhando os barcos passarem, como ele gostaria de ter feito", diz Pilar del Rio.
Construída no século 16, a casa desabou durante o terrível terremoto de 1755 que destruiu boa parte da capital portuguesa. Reconstruída em 1982, foi usada durante muito tempo como depósito de bacalhau, antes de ser cedida pela prefeitura em 2008 à Fundação Saramago.
Na primeira exposição os visitantes poderão descobrir, entre outras coisas, manuscritos, notas pessoais, recortes de jornal, fotos e os livros do escritor, além de uma seleção de obras suas traduzidas em várias línguas. Nas paredes poderão ser vistas páginas das agendas do autor de "Ensaio sobre a Cegueira".
Todo esse material, incluindo cerca de cinco mil livros, foi trazido de Lanzarote onde ainda resta uma enorme biblioteca de cerca de vinte mil obras.
Além das salas dedicadas às exposições, um andar será tranformado em auditório para projeção de filmes, organização de concertos, conferências e lançamentos de livros. A parte da biblioteca que permaneceu em Lanzarote poderá ser consultada em versão digital. Uma sala será reservada aos especialistas que estudam a obra de Saramago.
"Nós vamos impulsionar, convidar, propor debates porque não somos uma fundação exclusivamente literária. Queremos despertar as consciências", explica Pilar del Rio. Mas há a questão do financiamento: "Nós somos muito ambiciosos mas não somos numerosos e temos pouco dinheiro", diz ela especificando que a maior parte dos recursos provém dos direitos autorais do escritor. No entanto alguns "patrocinadores" já ofereceram contribuições.
Durante um mês o acesso à Casa dos Bicos será inteiramente gratuito, em seguida o preço da entrada será de três euros "e um pouco mais para os turistas estrangeiros", indica Pilar del Rio.
(fonte: http://www.portugues.rfi.fr)
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