terça-feira, 12 de junho de 2012

Maria Keil: A «mulher de várias artes» notabilizou-se pelos azulejos


Maria Keil, 97 anos, hoje falecida em Lisboa, no Restelo onde vivia, definia-se como uma "mulher de várias artes", mas notabilizou-se na azulejaria, o que lhe valeu em maio passado o prémio especial SOS Azulejo Obra e Vida.

Maria Keil afirmava-se como "uma artista": pintora, desenhadora, ilustradora, decoradora de interiores, designer gráfica e de mobiliário, ceramista, cenógrafa e figurinista, autora de cartões para tapeçaria "e, sobretudo, de composições azulejares".
Em 2009, em declarações à Lusa, afirmou: "Trabalho com muito gosto, na realidade faço o que se faz há milhares de anos, uma técnica conhecida, o quadrado de 14X14 cm e com tintas de água", disse, entre risos.
"É um material pobre, talvez por isso não seja tão apreciado", acrescentou.
Maia Keil a partir da década de 1950 e ao longo da seguinte dedicou-se especialmente ao azulejo, tendo realizado gratuitamente a decoração azulejar de todas as estações do Metropolitano de Lisboa inaugurado em finais de 1959.
" Lusa, contou que o marido, o arquiteto Francisco Keil do Amaral, responsável pele rede do Metropolitano de Lisboa, "chegou a casa preocupado com falta de dinheiro para acabar o projeto" quando ela lhe sugeriu os azulejos.
"É uma arte barata, mas vistosa, e muito adequada aos espaços públicos. Por ordem do [Presidente do Conselho] Oliveira Salazar, os azulejos não podiam ser figurativos, daí ter optado pelo abstrato", contou.
Em 2009 voltou a trabalhar no Metropolitano, desta feita com o arquiteto Tiago Henriques, na extensão da estação de S. Sebastião da Pedreira, para a qual fizera os primeiros painéis, em 1959.
Também nesse ano, foi distinguida com o Grande Prémio Aquisição pela Academia Nacional de Belas Artes. Na ocasião, o presidente da Academia, António Valdemar afirmou: "Maria Keil tem um lugar muito representativo no panorama português do século XX da pintura, do desenho, da cerâmica, da ilustração e 'design' do livro e até da filatelia"
Maria Keil estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, onde frequentou as aulas do pintor Veloso Salgado; iniciou a atividade aos 20 anos, dedicando-se sobretudo ao retrato, naturezas-mortas e também à decoração.
Em 1937 executou um motivo decorativo na "Salle IV - Outremer" do Pavilhão de Portugal, na Exposition Internationale de Paris e dois anos mais tarde, realizou a primeira exposição individual de pintura e desenho na Galeria Larbom, em Lisboa.
Em 1940 foi uma das artistas da Exposição do Mundo Português, e ao longo dessa década realizou vários projetos de decoração mural, mobiliário, cenários e figurinos para o Grupo de Bailados Verde Gaio, e cartões para tapeçarias, designadamente as de Portalegre.
Uma outra atividade paralela que manteve foi a de ilustradora para publicidade.
Em 1941 foi distinguida com o Prémio de revelação Souza-Cardoso pelo seu "Auto-Retrato".
Em 1970 esteve presente na exposição "Maioliche Portoghesi", em Florença (Itália).
Na década seguinte com bolseira da Fundação Gulbenkian, concretizou um projeto de estudo sobre as tendências da ilustração para crianças.
Como autora e ilustradora publicou cinco livros: "O Pau-de-Fileira", "Os presentes", "As três maçãs", para crianças, e "Árvores de Domingo" e "Anjos do mal", para adultos.
Ilustrou numerosas obras, nomeadamente livros para crianças, de autores como Matilde Rosa Araújo ou Aquilino Ribeiro de quem afirmou à Lusa "gostar particularmente".
Fez desenhos para as coletâneas sobre Bernardim Ribeiro, Castro Alves, Olavo Bilac e Tomás António Gonzaga, integradas na coleção "As mais belas poesias da língua portuguesa".
É também autora de ilustrações para revistas, nomeadamente Panorama, Seara Nova, Vértice, Ver e crer e Eva. As suas obras têm sido expostas em exposições, individuais e coletivas.

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