sexta-feira, 1 de junho de 2012

Palácio de Mafra recebe mais prémios pelo restauro dos seus 6 órgãos




Após um interregno de duzentos anos, os seis órgãos históricos do Palácio de Mafra, únicos no mundo, voltaram a tocar em conjunto desde há dois anos, após um restauro que vai ser premiado na sexta-feira pela Comissão Europeia.


O restauro, que durou onze anos e meio, é um dos seis projectos de excepcional relevância no património europeu a ser distinguido na sexta-feira com o prémio Europa Nostra, numa cerimónia que decorre no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com a presença do Presidente da República, do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do presidente da organização Europa Nostra, o tenor Plácido Domingo.

O evento acontece no âmbito do Congresso Europeu do Património.
«É uma distinção que premeia a escola de organaria portuguesa e homenageia os organeiros portugueses e todas as pessoas envolvidas», disse à agência Lusa Dinarte Machado, o mestre organeiro responsável. O complexo restauro foi acompanhado por uma comissão científica, liderada por Rui Vieira Nery.

Pela singularidade dos órgãos e pela falta de espaço dentro da basílica, sempre aberta ao culto, tratou-se de um trabalho árduo, porventura único na carreira deste profissional, pelo estudo que a conservação acarretou, pelo estudo em torno de instrumentos únicos no mundo e pela necessidade de harmonização dos instrumentos de acordo com o respectivo som original.

Mas, tendo em conta o estado de degradação dos seis órgãos, o trabalho veio a tornar-se mais desafiante.

«Um dos seis órgãos estava desmontado desde o século XIX e houve necessidade de o montar e de reconstruir a tubaria com base no estudo de órgãos construídos pelo mesmo autor e que estão em diferentes locais do país», explicou.

A importância artística dos órgãos, mandados construir por D.João VI, e a longa empreitada, que custou um milhão de euros, levaram a Comissão Europeia a distinguir, pela primeira vez desde 2005, o restauro de um órgão, sublinha o músico João Vaz, consultor permanente do projecto.
De igual modo, recorda o organista, os órgãos têm despertado o interesse dos investigadores, que desde há vários anos já conseguiram estudar e adaptar aos dias de hoje as partituras de dezenas de composições, escritas de propósito para serem tocadas no século XIX pelo conjunto dos seis órgãos.

No sábado, Plácido Domingo desloca-se a Mafra para assistir a um concerto dos seis órgãos e participar na assembleia-geral da Europa Nostra.

«Esperemos que a sua vinda seja o pretexto para um segundo regresso, dessa vez para cantar», afirma o director do palácio, Mário Pereira.

Os órgãos foram construídos em 1807 pelos organeiros António Xavier Machado e Cerveira e Joaquim António Peres Fontanes, a pedido de D. João VI, sucessor de D. João V, que mandou construir o Palácio Nacional de Mafra. Mas a actividade musical veio a decair com o exílio da corte no Brasil, a degradação acentuou-se e os órgãos deixaram de funcionar em conjunto.

Os Prémios Europa Nostra são apoiados pelo Programa Cultura da União Europeia em cerca de 30 milhões de euros. A Europa Nostra representa 250 organizações não-governamentais e sem fins lucrativos, de mais de 50 países europeus.

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