quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Teatro Maria Matos: You never know how things are going to come together



Faltam três dias para a estreia de You never know how things are going to come together quando o P2 entra na sala do Teatro Maria Matos, em Lisboa, para assistir ao ensaio de trabalho da mais recente coreografia de André Mesquita para a sua companhia Tok"Art. Os bailarinos repetem a mesma sequência até serem interrompidos pelo coreógrafo que, da plateia, pede que tenham atenção ao modo como terminam o movimento.

Os seis bailarinos responderão uma e outra vez, procurando encontrar naquele movimento, por vezes brusco, cortado, quase frio, um modo de diálogo comum que se possa aproximar de uma voz comum. É nesse constante equilíbrio entre força conjunta e determinação individual que se vai basear a peça que Mesquita andou a construir a partir das questões levantadas pelo livro de David Brooks The Social Aninal: The Hidden Sources of Love, Character and Achievement(Random House, 2001). Um diálogo entre a intuição e a razão, entre a dificuldade de intervir publicamente e a responsabilidade em o fazer. Por isso, quando André Mesquita nos vem cumprimentar para nos esclarecer que o que estamos a ver é um ensaio de trabalho, reforçando a ideia de que gosta de trabalhar até ao último momento, percebemos melhor por que é que o seu movimento se caracteriza, escondido nessa frieza, por uma fragilidade, uma instabilidade e uma ausência propositada de um significado único.

Nos últimos anos, o coreógrafo, regressado a Portugal depois de experiências na Alemanha, foi desenhando, através da Tok"Art, um discreto percurso, com base no Teatro Municipal do Cartaxo, como companhia residente - processo entretanto interrompido -, ao mesmo tempo que foi coreografando, por exemplo, para companhias como o Balé de São Paulo, no Brasil; o Danish Dance Theatre, na Dinamarca ou o Tanz Luzern Theater, na Suíça.

É verdade que André Mesquita partilha com outros coreógrafos contemporâneos as mesmas referências e preocupações. Por exemplo, a dificuldade de a dança poder ser expressa através de palavras e, por isso, o movimento parecer sempre demasiado exposto, sobrevivendo, dificilmente, através de uma exigência técnica que não se pode disfarçar com conceitos.

A sua não é, por isso, uma dança exuberante do ponto de vista conceptual, não é sequer um movimento muito arriscado, mas é seguro, porque anda em terrenos minados, perigosamente delimitados pela figuração, a narrativa e a linearidade.

Por isso, uma coisa serão as suas ideias, que o próprio considera como pontos de partida, outra será a estruturação do seu discurso - quebrado, imaginativo, errante - e outra ainda o modo como encontra no movimento um modelo aproximado de comunicação.

O coreógrafo falar-nos-á da dificuldade em encontrar o equilíbrio certo entre intuição e emoção, perguntar-nos-á, inclusivamente, se será até justo pedir-se isso de algo tão imaterial como a dança. Por isso, quando, depois da conversa, voltamos a olhar para o palco onde uma das bailarinas é rodeada pelos seus parceiros que a observam enquanto ela encontra formas de libertação da frase coreográfica sobre a qual primeiro improvisou e, depois, começou a organizar, o que vemos é uma absoluta surpresa. Os corpos que Mesquita quer construir parecem demasiado humanos. Estão perdidos, expectantes, experimentam e erram para voltarem a tentar. A peça estará até dia 11. No fim do mês poderá ser vista na Guarda (24) e em Viseu (25). (fonte: ipsilon)

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