“Cosmos”, de Lautaro Vilo, é a mais recente produção do Teatro Oficina, resultando de uma residência artística na cidade de Guimarães e envolvendo os atores do Teatro Oficina.
A estreia absoluta irá acontecer a 09 de março às 22h00, no Espaço Oficina (Av. D. João IV, 1213 Cave), em Guimarães, e permanecerá em cena no dia 10 também às 22h00 e dia 11 às 17h00.
Esta peça inspira-se numa reflexão do autor acerca do processo de conhecimento progressivo que trava com as suas personagens, e gira em torno duma família cujos irmãos já são adultos e se reúnem para passar as festas de final do ano.
Entre os nervos do reencontro e a conversa posta em dia das suas vidas, estes irmãos (por momentos perfeitos estranhos) dispõem-se a desfrutar do momento de “comunhão”. Porque esse é motivo destas reuniões e porque a alegria, mesmo que imposta, é a melhor maneira para não se relacionarem demasiado. A obra define-se então como uma investigação poética sobre as dificuldades e as impossibilidades de partilhar a dor alheia.
“Cosmos” encontra-se integrado na programação de Artes Performativas da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
Numa wikipediana e aleatória busca na internet encontro o sentido perfeito para esta palavra, e encontro-a em mandarim, literalmente espaço-tempo, sentido fundador e definidor do teatro. Estamos assim a começar este ano, tão simbólico e festivo, pelo princípio certo, escolhendo acertadamente os nomes que nos pomos. Mas se formos pelo sentidocomum da palavra chegamos a definições ainda mais reveladoras desta escolha, expressões como sistema em harmonia provocam um sorriso nos nossos espíritos e corações, já que é exatamente aquilo que estamos a construir no Teatro Oficina: uma ideia de teatro, que é mais do que isso, é uma ideia de criação no contexto de uma cidade, de um país e mais do que tudo isso, uma certeza de crescimento estruturado, onde a capital europeia de cultura aparece na altura certa, numa função mais de participação global de uma comunidade, contrariando ambições de “ovo de Colombo” ou de deslumbramento com paixões efémeras. Fazemos hoje aquilo que temos feito, criação dramatúrgica neste nosso tempo real, com um conjunto de atores mais alargado, com uma forte componente de formação paralela à criação, assumindo o risco que é este trabalho de pesquisa, mas certos deste lento e efetivo caminho que outros começaram, e que alegremente vamos continuando.
Com o Lautaro Vilo hoje, amanhã com o Jacinto Lucas Pires, e de vez em quando com o Shakespeare, mas também com o João Henriques, o João Pedro Vaz, o José Olivares, ou as Saras, a Diana, o Emílio, o Pedro, o Eduardo, o André e a Alheli e o Ivo, vamos escolhendo os nomes que vamos pondo às coisas, e as coisas são primeiro teatro, mas a seguir, um segundo depois, entram no desígnio maior da cidade que nomeamos.
Marcos Barbosa, Diretor Artístico do Teatro Oficina
“Cosmos” é a terceira aventura teatral ligada a esta bela companhia de teatro. Em 2010, sendo nós apenas doisconhecidos com boas referências recíprocas, Marcos Barbosa convidou-me para encenar “A Fábrica”. No ano passado, o próprio encenou e interpretou “Um acto de comunhão” e, neste caso, fui chamado novamente a participar neste evento tão significativo que é Guimarães 2012 com esta nova peça de teatro. Há momentos em que nos sentimos honrados e felizes e estes meses de trabalho foram exemplo disso.
Em “Cosmos”, parti de uma afirmação de Ibsen que li em tempos. Ele disse que conhecia as suas personagens gradualmente, à medida que escrevia uma peça de teatro. Na primeira versão da obra, conhecia-os como se tivesse partilhado uma viagem de comboio com os mesmos; na segunda, como se tivesse ido de férias com eles e na terceira, já os conhecia como se fossem membros da sua família, de uma forma profunda e com uma imagem tão clara que já nunca iria mudar.
Esta afirmação, desde os tempos em que estudava, parecia-me muito motivadora e muito problemática: motivadora no sentido de me questionar quando poderia chegar a conhecer as personagens duma peça escrita por mim dessa maneira tão íntima. Problemática, perturbadora, porque muitas vezes constatei que, em muitas famílias, as personagens nunca chegam a conhecer-se profundamente. E, no entanto, este misterioso grupo de estranhos que se relacionam entre si ao longodas linhas que definem uma infância compartilhada, não deixa de ser a âncora fundamental do mundo adulto. Muitas vezes o lugar a partir do qual pensamos em herança, a partir do qual vemos o mundo: 'Na minha família somos assim'. Vejo nas reuniões familiares um mistério, o encontro e a impossibilidade de conhecimento como com qualquer pessoa no mundo, mas ainda mais. Éentre os irmãos que muitas vezes convive o conhecimento mais íntimo com o maior distanciamento. O resto é uma espécie de aventura louca e momentos esquivos onde a reunião familiar naufraga em mares distintos de desejos muitas vezes não correspondidos numa cidade contemporânea.
Lautaro Vilo, Autor e Encenador (fonte: http://www.correiodominho.com)
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